sexta-feira, 17 de outubro de 2014

2 em 1 - GeoQuiz e Homenagem (ou agradecimento?) a um professor!

Recém passado o Dia dos Professores, escrevo esse textinho para repercutir o que julgo ser uma boa proposta pedagógica para quem curte a função docente e, inevitavelmente, homenagear um grande professor que tive!

Pois bem... essa semana criei o GeoQuiz, uma "brincadeira" que objetiva fazer meus alunos refletirem sobre o conteúdo trabalhado nas últimas aulas através do WhatsApp. As turmas com as quais trabalho em uma grande escola de Porto Alegre têm grupos das suas turmas no Zapzap. Eu, por desenvolver uma relação próxima com os alunos, sou o único professor inserido (enxerido) nos grupos.

GeoQuiz consiste em uma ou mais perguntas que exigem o raciocínio rápido e associativo dos alunos. Aqueles que tiverem construído bem as habilidades abordadas nas questões estarão aptos a responder às perguntas e, logo, sair-se-ão vencedores. Primeiramente ofereci um Kit Kat como prêmio aos ganhadores, mas, ciente de que isso me levaria à falência em alguns dias, passei a oferecer prêmios simbólicos.

A ideia é que as perguntas sejam contextualizadas com algo que esteja acontecendo ou tenha recém acontecido. Assim os alunos vêem a Geografia na vida real! Uma chuvarada, por exemplo. Outro resultado interessante percebido com a brincadeira é a vontade dos alunos em participar, mesmo sendo fora do horário de aula. Chegam a abrir seus cadernos em casa para consultarem a matéria das aulas (enviam fotos disso)!

Não sei o quanto fui influenciado pelo Prof. Lucas Klassmann - antes de um grande Professor, um baita primo! Ele fazia brincadeiras parecidas via Twitter e contava com a participação de vestibulandos do Brasil inteiro! Só lembrei da semelhança entre as propostas quando percebi o quanto isso vinha sendo legal para os alunos. Imediatamente re-senti as boas sensações de quando eu mesmo participava daquele quiz de Biologia do meu primo, ops, nesse contexto, professor!

Enfim... acho que o melhor agradecimento e homenagem que eu poderia fazer para esse grande professor é mostrar a sua influência 6 anos depois de ter sido seu aluno. Professores bons são imortalizados através da sua prática! Feliz Dia do Professor, meu primo!

" (...) pois os alunos corretamente instruídos estimam seu professor com afeto e respeito. E é quase impossível dizer quão mais voluntariamente imitamos aqueles a quem amamos."
Marco Fábio Quintiliano


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O que eu faço de diferente? ¯\_(ツ)_/¯

Uma das coisas que mais gosto na profissão Professor é compreender essa complexa instituição chamada Escola...

Nesse sexto ano do lado de cá do processo de ensino-aprendizagem, compreendo como nunca os fatores que me colocavam em conflito com a educação escolar convencional (prefiro não usar o termo "tradicional" para isso), dos tempos em que estava do lado de lá.

Um dos fatores é a simples, mas difícil de presenciar, humanização das relações... A relação professor-aluno que percebo é parecida com a relação estereotipada do genro com a sogra. Demonstram um aparente interesse no bem-estar um do outro, até perguntam se o outro está bem, mas nem escutam a resposta. Não concretizam um "diálogo", de fato. 

Tenho percebido ultimamente... 
... que por trás de toda a iniciativa de sucesso nas escolas, que resultam em curiosidade, busca e aprendizagem, está o afeto, o cuidado nas relações, a humanização no lugar da "criaturização". 
...que antes de qualquer metodologia de ensino inovadora, proposta pedagógica revolucionária, utilização de novas linguagens no ensino de sei-lá-o-quê, está o diálogo, a escuta...
... que antes do resultado, tem um processo. Vejo muita preocupação com o resultado e pouca com o processo.
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"O que eu faço de diferente? Não sei... nas últimas 5 aulas, fiz 4 avaliações dissertativas."
¯\_(ツ)_/¯ 
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domingo, 21 de setembro de 2014

Lado de lá da minha cama: uma rugosidade.


Resolvi resgatar da minha temporária Timeline do Facebook esse textinho, antes que sumisse... 
Publiquei às 6h do dia 06/07/14 e gostei. 
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Quando o pessoal começa a dar "bom dia" no Facebook eu percebo que é hora de ir dormir. Mas antes, uma besteira:

Milton Santos, semi-Deus da Geografia 
Percebi agora que o lado de lá da minha super cama de casal é um bom exemplo de "Rugosidade". A minha cama é super porque ela é king ou queen-size, sei lá. De uns tempos para cá, durmo todos os dias acompanhado de uns livros, pandeiros, roupas... tem até um Xis Coração ali no cantinho.

Uma nova função para essa forma. Função de estante. Fria uma barbaridade.

A ocupação desse espaço, que mantinha aquela forma quentinha, já não faz mais parte dessa paisagem, porém vocês sabem como é esse processo de supressão, acumulação, superposição...

Os colegas geógrafos já podem parar de ler aqui e estão liberados para se arrependerem de ter lido.

Aos não-geógrafos, segue uma explicação:
"Rugosidade", de acordo com o semi-Deus Milton Santos, é, basicamente, uma forma no espaço que perde sua função original e adquire uma nova no contexto de um novo tempo... Uma forma que era usada para uma coisa e hoje é usada de outra forma.
Bem como aconteceu com o lado de lá da minha cama.
Bom dia pra vocês, boa noite pra mim!

sábado, 2 de agosto de 2014

Azeitona.

Azeitona é ruim já no nome. A palavra parece ter algo em comum com as palavras "Azedo", "Azedume", "Azar"... Azeitona foi uma besteira que Deus fez ao criar o mundo. Azeitona é tão ruim que é usada por criminosos para aterrorizar suas vítimas. Outro dia ouvi um bandido dizendo que enfiaria uma Azeitona na cabeça de um cara. Já pensou que morte trágica?

Morder uma Azeitona (aarrgh) escondida em um pastel de carne estraga muito mais do que a minha refeição; estraga meu dia. E os vendedores de pastel agem como se fosse normal colocar Azeitona em um alimento e não avisam os clientes desse perigo:
"O que tem nesse pastel?"
"Esse é de carne com ovo".


Muita gente acha que é frescura minha e diz para eu apenas tirar a azeitona de cima da pizza. Só que isso não adianta. A Azeitona sai mas deixa gosto, energia negativa e um CD do Luan Santana no lugar em que estava. Aquele gosto não sai nem se lavar o queijo com Vanish Poder O2.

Me julguem, mas eu não confio em gente que privilegia as Azeitonas em uma rodada de petiscos contendo pedacinhos de queijo, presunto e ovinhos de codorna. Eu não fico sozinho no mesmo ambiente com alguém que pega Azeitona e não as Castanhas de Caju no pote ao lado, por exemplo.

Enfim... quando for deputado federal, vou propor um projeto de lei que proíba a comercialização de Azeitonas no país e ofereça tratamento psiquiátrico às pessoas que gostam disso.




quarta-feira, 9 de julho de 2014

Diálogos do Cotidiano - que deveriam ser filmados...

Há horas não posto um causo por aqui, neh? Pois bem... 

Certa feita (hoje, mas causo bom começa com um "Certa feita...") passeávamos nós três pela rua, eu e meus dois cachorros (foto), até que se sucedeu-se um diálogo estranho.

Tudo corria bem, xixi aqui, xixi acolá, e o território era aos poucos conquistado pelos machos cachorros. Mas aí, passando pela frente de um condomínio de pessoas que ganham menos do que tentam fazer parecer, um dos meus cachorros começa a fazer cocô no gramado. Enquanto prontamente eu procurava um saco plástico (poluente) nos bolsos da calça para descartar o resíduo (orgânico e que aduba a grama) no lixo, um senhor morador do condomínio que fica junto desse gramado, me interpela com certa frieza e dois quilos de arrogância:

ELE - "Teu cachorro está fazendo cocô na grama?"
EU - "Sim!"  Constatei rapidamente ao observar que o cocô não saía voando.
ELE - "E tu visse a placa (foto)?" - me perguntou o senhor, como se não soubesse a resposta.
EU - "Vi! Mas ali diz que é proibido fazer XI-XI e não CO-CÔ." - Separei em sílabas para ser mais didático, apenas.

... dois segundos eternos de silêncio e estranhamento, até que meu outro cachorro começa a fazer xixi, numa tentativa de me desmoralizar perante ao senhor interpelador.

ELE - "AH RÁÁ! Agora o outro está fazendo XI-XI!" - Me imitando na separação das sílabas, arrotando razão e celebrando a vitória antes da hora.
EU - "Ah, então ele não entendeu a placa!" - Exclamei, expondo a incapacidade de leitura do meu pobre canino analfabeto.
ELE (brabão) - "SIM, MAS TU ENTENDEU!" - Exclamou em letras maiúsculas e grifou o TU!
EU - "Sim, por isso EU não faço XI-XI aí" - Mostrando toda a minha obediência à lei!







Logo o Zebu,
sempre tão obediente com as placas...


Melhor comentário:
"Quem não entendeu a placa foi o vizinho, que te deu uma mijada onde era proibido fazer xixi(VIEGAS, 2014)

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Volta por Cima!!! Sambaterapia #2

Dedicado a Márcia Viegas, educadora que sabe bem o quanto é gratificante nossa profissão!

Eis que uma amiga me chamou para uma aula de musicalização em um CAPSAD - Centro de Atenção Psicossocial  Álcool e outras Drogas. Eu, ainda não acostumado com tantos momentos gratificantes que vivo na vida de Professor de Geografia, Inglês e Música, topei o voluntariado, certo de que seria uma bela experiência...

Lá conheci um pessoal fantástico: alguns homens e uma mulher batalhadores, lutando contra a dependência química. Obs.: essa divisão em gênero foi intencional, para chamar a atenção à saúde do homem. Conheci também alguns profissionais da saúde que lá trabalham, que foram tão acolhedores comigo quanto são com aqueles guerreiros! Lá vivi uma experiência que entra para o Top Five das experiências mais marcantes pelas quais já passei.

Cercados de instrumentos de percussão produzidos por eles mesmos a partir de materiais reutilizados e reciclados, dialogávamos sobre a música em paralelo com a vida... Sobre características e critérios necessários para que seja diferente do barulho e, logo, agradável aos ouvidos. Sobre a Arte! Sobre como tudo isso é uma linguagem e uma representação da vida, com suas etapas, movimentos, silêncios, etc.

Assim foi... conversa tão agradável, que já estávamos na reta final da aula e não havíamos ainda produzido música! Tocar e cantar era para ser o mais esperado, pensava eu! Mas falar de nós mesmos, dos nossos sentimentos, das nossas amizades e dos amores através da música preencheu 90% do tempo. O psicólogo comentou, após esse trabalho, que nunca tinha visto eles falarem tanto de suas vidas como falaram naquela aula. Faltando dez minutos iniciamos a primeira música... 

"Vamos lá! Quem puxa uma?", enquanto todos pegavam seus instrumentos e surgia uma batucada na cadência bonita do samba, um senhor de voz baixa, bem grave, começa a cantar a música Volta por Cima, composta por Paulo Vanzolini:

Chorei... não procurei esconder...
Todos viram, fingiram... pena de mim não precisava!
Ali onde eu chorei, qualquer um chorava...
Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava.

Um homem de moral não fica no chão.
Nem quer que mulher lhe venha dar a mão.
Reconhece a queda e não desanima.
Levanta, sacode a poeira, e dá a volta por cima.


Chegando no fim da letra, cantamos os versos "Reconhece a queda e não desanima" e então fiz sinal para que todos parassem de tocar e apenas cantassem em coro: 
"Levanta, sacode a poeira, e dá a volta por cima..."

Foi emocionante... Foi de arrepiar!
Essa música narra o atual período de vida daqueles senhores. Eles eram autoridades no assunto, por isso cantaram com os corações, e não há voz mais bonita e afinada que essa. O espaço do CAPSAD era o palco daquele show, um cenário com objetos e figurinos devidamente contextualizados com a música... os instrumentos foram feitos por eles, e não há quem os toque melhor do que as próprias mãos que os construíram. 

Beth Carvalho, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e até mesmo o falecido Noite Ilustrada que me desculpem, mas foi a versão mais bonita que já ouvi dessa música. Nas vozes desses sambistas eu ainda não havia significado ela. Dentre tantos sentimentos bons naquele momento, lembrava das minhas leves reabilitações e lembrava do meu pai que venceu (vence a cada dia) uma batalha dessas. Dei sentido, signifiquei.

O que veio antes e depois disso foi tão lindo quanto, mas destaco só esse momento para poupar-te, leitor(a)!


terça-feira, 11 de março de 2014

Sambaterapia...

"Tristeza é um bichinho que prá roer tá sozinho. E rói a bandida. Parece rato em queijo parmesão. " 
Adoniran Barbosa - Bom dia, Tristeza.

Tudo o que sinto já foi em algum momento cantado e sonorizado em samba. As alegrias, amizades e amores! Porém, agora escuto também a representação sonora da minha tristeza nesse ritmo. Músicas já conhecidas, curtidas sempre de forma descontextualizada, agora fazem mais sentido. Pouco mais específico que Musicoterapia, tenho praticado o método Sambaterapêutico. E não é queixando-me às Rosas... mas, que bobagem...

No momento, a tristeza fez do meu coração a sua moradia! Queria voltar àquela vida de alegria, queria de novo cantar... já pedi até por favor para que essa tristeza fosse embora, pois minha alma que chora está vendo o meu fim! Mas acho que ela vai sempre estar ali, como se nunca fosse demais o meu penar... Afinal, tristeza não tem fim;felicidade sim”. Neh, Tom Jobim?

Músicas cadenciadas, de notas baixas, com sílabas alongadas durante o cantar; essa à qual me referi no início do texto, justamente chamada Tristeza, é uma pedrada. Um tijolaço, se tocada por Toquinho e Vinícius, mesmo na versão instrumental. Para quem lê sons, como eu exercito fazer, uma música não precisa ser verbalizada para desequilibrar alguém... O Haroldo Lobo devia estar na mesma situação que eu quando a compôs. Sem ‘Dó’.

Mas nisso não há nada de novo. Aliás, desde que o samba é samba é assim. Mais do que nunca percebo que, de fato, a solidão apavora. Então respeito a tristeza, que, como escreveu Caetano, é senhora. Ao som do seu violão e da sua voz suave, cantada lenta e lindamente, ele me consola. Só cordas, sem percussão, como se assim ficasse mais harmônico e entrasse mais suavemente nos ouvidos. Como se assim facilitasse a minha interpretação. Diz que o samba é pai do prazer: concordo. No entanto, é também filho da dor! Dialética verdadeira, essa! Por isso me ajuda tanto. Então ele encerra citando o seu grande poder transformador. Sim, é através da audição atenta desses clássicos que eu me reenergizo, reorganizo, recupero e reequilibro. Sem “Ré”. Preciso andar, vou por aí a procurar, sorrir pra não chorar.

Nesse jogo dialético de palavras e sentimentos, o Adauto Santos e Luiz Carlos Paraná escreveram algo que só hoje percebo: quem anda atrás de amor e paz, não anda bem. Porque na vida quem quer paz, amor não tem. Seja o que for, sou mais o amor, com paz ou sem. Sei que é demais querer-se paz, e amor também. Essa letra, na voz do Martinho, doce e acolhedora, esclarece muita coisa... É como se me abraçasse. Quase uma interpretação de Camões, que define o amor, em toda a sua complexidade, contrariedade e incoerência, de forma simples, aparentemente. “É contentamento descontente”.

A gente vai levando, neh Vinícius? A boa e velha Bossa Nova, tua e de outros mestres, também tem me ajudado. Vocês cantam a tristeza e o amor (indissociáveis) baixinho, de forma suave, como se estivessem ao lado das pessoas. Lhes ouço próximo aos meus ouvidos... Como se estivessem aqui no meu apartamento de classe média, sem querer incomodar os vizinhos, bem como nas décadas de 50 e 60 vocês faziam. Deusolivre a ditatura descobrir esses ajuntamentos de vocês, e deusmelivre parecer triste na frente dos amigos... logo eu... Esse samba letrado de vocês me ajuda a aceitar o meu erro cometido à minha Garota de Ipanema e me reequilibrar em meio à construção do TCC e lado esquerdo do cérebro em alta.

O fim do meu amor de Carnaval foi um grande breque no meu samba-enredo. Foi como o paradão da Surdo 1 em 2012. Meu coração ainda balança como um surdo de terceira ao vê-la... Quem dera retomássemos aquele sambão, deixando para trás o lamento... Voltássemos com uma subida de tamborim devastadora! Meus espaços vazios já não são mais preenchidos por seus chocalhos e caixas... são só silêncio. O repinique dela não dialoga mais com a minha bateria. Vontade de dar um aperto de saudade no meu coracãmborim. Só me resta molhar o pano da cuíca com as minhas lágrimas e do nosso desacerto fazer esse samba-enredo. Assim evolui meu bloco tristeza, pé nochão.