quarta-feira, 25 de abril de 2012

Eu e minha aula...

"Ô sôr, por que parece que o senhor gosta de dar aula?"

Gaguejei durante infinitos segundos até conseguir lhe responder um sonoro e inconclusivo "não sei".
Ela deve pensar que vários professores não gostam de estar ali. Estão incomodados. Tristes. Na sala dos professores concluo o mesmo que ela, através das conversas.
Ela notou que eu gosto de dar aula. "Ele finge muito bem", ela deve pensar. Imagina! Eu até convenço ela! Mas o que mais me surpreende é a sensibilidade dos alunos, através de exemplos como este.

Um dia fui dar aula de tarde, depois de ter passado uma manhã inteira me despedindo de uma senhora muito especial, que morreu na cama, dormindo. Ela era avó da minha ex-namorada, mas já considerava minha terceira avó. Poderia ter cancelado a aula, alegando estar triste com a situação, mas não gostaria que os alunos tivessem pena de mim, muito menos que ficassem sem aula.

Não falei nada. Deixei os sentimentos do lado de fora da sala e dei meu melhor em aula! Mas não demorou 15 minutos para que me perguntassem: "Sôr, o que tu tem hoje? Tá bem?" Contei tudo o que havia acontecido.  Lamentaram, me confortaram, e assim a aula seguiu, tranquila e produtiva.

Desde então, sempre fui transparente, honesto e sincero com os meus alunos. Até porque eu reproduzo meus sentimentos, sem querer, não tem como escondê-los. Meus sentimentos me produzem e produzem o que eu faço. Se fiz bem, é porque estou bem. Eu, minha aula e meus sentimentos são coisas indissociáveis. Sou o que sinto e minha aula é reflexo do que sou, logo, de como me sinto.
Basta a presença de um professor desmotivado para que o problema no complexo processo de aprendizagem comece.