terça-feira, 11 de março de 2014

Sambaterapia...

"Tristeza é um bichinho que prá roer tá sozinho. E rói a bandida. Parece rato em queijo parmesão. " 
Adoniran Barbosa - Bom dia, Tristeza.

Tudo o que sinto já foi em algum momento cantado e sonorizado em samba. As alegrias, amizades e amores! Porém, agora escuto também a representação sonora da minha tristeza nesse ritmo. Músicas já conhecidas, curtidas sempre de forma descontextualizada, agora fazem mais sentido. Pouco mais específico que Musicoterapia, tenho praticado o método Sambaterapêutico. E não é queixando-me às Rosas... mas, que bobagem...

No momento, a tristeza fez do meu coração a sua moradia! Queria voltar àquela vida de alegria, queria de novo cantar... já pedi até por favor para que essa tristeza fosse embora, pois minha alma que chora está vendo o meu fim! Mas acho que ela vai sempre estar ali, como se nunca fosse demais o meu penar... Afinal, tristeza não tem fim;felicidade sim”. Neh, Tom Jobim?

Músicas cadenciadas, de notas baixas, com sílabas alongadas durante o cantar; essa à qual me referi no início do texto, justamente chamada Tristeza, é uma pedrada. Um tijolaço, se tocada por Toquinho e Vinícius, mesmo na versão instrumental. Para quem lê sons, como eu exercito fazer, uma música não precisa ser verbalizada para desequilibrar alguém... O Haroldo Lobo devia estar na mesma situação que eu quando a compôs. Sem ‘Dó’.

Mas nisso não há nada de novo. Aliás, desde que o samba é samba é assim. Mais do que nunca percebo que, de fato, a solidão apavora. Então respeito a tristeza, que, como escreveu Caetano, é senhora. Ao som do seu violão e da sua voz suave, cantada lenta e lindamente, ele me consola. Só cordas, sem percussão, como se assim ficasse mais harmônico e entrasse mais suavemente nos ouvidos. Como se assim facilitasse a minha interpretação. Diz que o samba é pai do prazer: concordo. No entanto, é também filho da dor! Dialética verdadeira, essa! Por isso me ajuda tanto. Então ele encerra citando o seu grande poder transformador. Sim, é através da audição atenta desses clássicos que eu me reenergizo, reorganizo, recupero e reequilibro. Sem “Ré”. Preciso andar, vou por aí a procurar, sorrir pra não chorar.

Nesse jogo dialético de palavras e sentimentos, o Adauto Santos e Luiz Carlos Paraná escreveram algo que só hoje percebo: quem anda atrás de amor e paz, não anda bem. Porque na vida quem quer paz, amor não tem. Seja o que for, sou mais o amor, com paz ou sem. Sei que é demais querer-se paz, e amor também. Essa letra, na voz do Martinho, doce e acolhedora, esclarece muita coisa... É como se me abraçasse. Quase uma interpretação de Camões, que define o amor, em toda a sua complexidade, contrariedade e incoerência, de forma simples, aparentemente. “É contentamento descontente”.

A gente vai levando, neh Vinícius? A boa e velha Bossa Nova, tua e de outros mestres, também tem me ajudado. Vocês cantam a tristeza e o amor (indissociáveis) baixinho, de forma suave, como se estivessem ao lado das pessoas. Lhes ouço próximo aos meus ouvidos... Como se estivessem aqui no meu apartamento de classe média, sem querer incomodar os vizinhos, bem como nas décadas de 50 e 60 vocês faziam. Deusolivre a ditatura descobrir esses ajuntamentos de vocês, e deusmelivre parecer triste na frente dos amigos... logo eu... Esse samba letrado de vocês me ajuda a aceitar o meu erro cometido à minha Garota de Ipanema e me reequilibrar em meio à construção do TCC e lado esquerdo do cérebro em alta.

O fim do meu amor de Carnaval foi um grande breque no meu samba-enredo. Foi como o paradão da Surdo 1 em 2012. Meu coração ainda balança como um surdo de terceira ao vê-la... Quem dera retomássemos aquele sambão, deixando para trás o lamento... Voltássemos com uma subida de tamborim devastadora! Meus espaços vazios já não são mais preenchidos por seus chocalhos e caixas... são só silêncio. O repinique dela não dialoga mais com a minha bateria. Vontade de dar um aperto de saudade no meu coracãmborim. Só me resta molhar o pano da cuíca com as minhas lágrimas e do nosso desacerto fazer esse samba-enredo. Assim evolui meu bloco tristeza, pé nochão.