quinta-feira, 21 de março de 2013

Grades e mais grades...

"As grades do condomínio são pra trazer proteção, 
mas também trazem a dúvida 
se é você que está nesta... prisão!" 
Minha Alma - O Rappa

Notei na primeira vez em que voltei ao Instituto de Educação como professor, que há cinco olhares possíveis de serem feitos sobre a grade posta na frente do seu prédio: a, b, c, d, e.

a) Enquanto fui aluno da escola, não havia grade, logo, não havia um olhar direto sobre ela. Mas olhava o projeto e já me posicionava, enquanto Grêmio Estudantil, contra. Era ainda um olhar imaturo e que mirava o futuro, portanto sem uma base sólida que o sustentasse e sem a real dimensão do poder de uma grade.

b) Entre 2008 e 2013, período em que estive fora da escola , olhei a grade enquanto pedestre. Algo arquitetonicamente inadequado para uma construção tão bonita, que sequer permitia-me admirar sem querer a sua faixada. Sim, pois uma pessoa em movimento e de estatura menor que a grade, ao olhar na direção da escola, na diagonal, observa somente a grade. De imponentes, os pilares por detrás desta passam a ser impotentes.

c) Nas visitas em datas comemorativas (Festa Junina, Reencontro de Ex-alunos, etc.), ao ser barrado pela grade, tive um terceiro olhar: o olhar de ex-aluno. De alguém que viveu a escola e muito fez por ela e agora é barrado por uma grade que não difere um bandido de alguém com boas intenções com a escola.

Sombra à que tive acesso por ser professor.
d) Volto então, agora, como professor à escola. Chego às 13h10min e a grade gentilmente abre para que eu possa esperar dentro do território escolar onde posso usufruir de uma única sombra (foto) do final do verão porto-alegrense  Atente para a palavra-chave território, um conceito diretamente relacionado com poder, limite e fronteira

e) Agora o pior dos olhares que a grade recebe: o olhar do atual aluno. Uma criança que segue a característica geral de sua geração que é a despolitização (há exceções, para nossa alegria). Lutar por seu direito não é do seu feitio. 
Ele chegou junto comigo, no mesmo horário, sob o mesmo Sol de Forno Alegre em março; mas ele não pôde entrar. A grade seleciona a pessoa que pode ter o seu lugar à sombra. Ela hierarquiza e coloca o professor (eu) um nível acima do mero aluno que, pobrezinho, não pode nem contar com a sombra do falecido Guapuruvu (foto) que por tanto tempo me cobriu projetando sua sombra na calçada.


Onde havia um Guapuruvu e uma bela sombra...


Então pensemos:
Se este aluno chega cedo demais, como neste caso, fica na rua. 
Se este aluno chega atrasado, após 10 minutos de tolerância fica na rua
Entende-se por "ficar na rua", ficar sob as intempéries da natureza, o Sol forte, a chuva, o calor, o frio, vento... e, ainda, exposto à violência.


 Agora, se este aluno chegasse no horário, entre 13h25min e 13h40min, ele seria preso. A grade o engoliria e o manteria até o fim do turno naquele prédio. Prédio este que, por muito pouco, difere de um presídio. Os carcereiros, ou, nesse caso, professores cuidando de suas celas, ou, salas. Professores estes, presos à uma grade curricular dentro da educação do medo.

E à quem interessa o medo, as grades, os muros, ...?

quarta-feira, 6 de março de 2013

Amor de Carnaval...


Eis que nossos corações coloridos em vermelho e verde passaram a bater sincronizadamente, num “tum-dum” ritmado... Parecem Surdos de Primeira e Segunda, fazendo a marcação que permite a relação harmoniosa entre os instrumentos e ritmistas...

A cada encontro, um Surdo de Terceira que surge no meu coração, dando o balanço na batucada, um desequilíbrio só de te ver... O consequente abraço preenche os espaços até então vazios, fazendo dos nossos braços, as Caixas, Taróis e Chocalhos, unindo corpos e sons e emanando a energia da relação. Em seguida, um “chêro”, um tok especial como o de um Agogô, perfumando a música, abrilhantando o que agora é um corpo só.

Que passemos pelos Cortes 2 e sigamos reto, com um chorinho de Cuíca sensibilizando a bateria... É sentimento dos músicos, embelezando a relação. As paradinhas são necessárias para um andamento que esteja caindo, pois depois de um groove de Repinique, seguido por uma subida contagiante dos Tamborins, nosso samba volta ainda mais forte!

Nosso amor é como o produto das relações entre estes músicos e instrumentos: é harmonia, energia, aprendizagem e, principalmente, construção em parceria!

terça-feira, 5 de março de 2013

Queixo-me ao blog...

O causo é o seguinte:
Acabo de ver um vídeo que fala de forma bonita e organizada tudo que sempre pensei e pratiquei, porém, do meu jeito. Aí fiquei feliz, triste, orgulhoso e frustrado ao mesmo tempo e, quando sentimentos se cruzam assim, eu escrevo. Então liguei o Cartola nos fones de ouvido e fui...


Que frustrante e muito fantástico é ver alguém verbalizando, textualizando, o que desorganizadamente eu já pensava e sentia, desde criança. Acontece direto... às vezes quando leio um texto ou assisto um vídeo... outra hora numa conversa, ou numa reflexão ao abrir a geladeira. Enfim, eu explico. Ou complico. Sei lá, ninguém mandou você ler isso aqui.

Me frustro por perder um pouco da minha ignorância e, junto dela, a minha petulância. Perdi autoria... Era tão bom ser ignorante e achar que estava na vanguarda daquele pensamento... Agora sei que nada sei, ou melhor, nada sabia... Antes não sabia o quanto de fato não sabia e achava que sabia muito... Ih, baixou Sócrates aqui.

Mas, ora, não sejamos tão humildes... Agora sei que sei um pouquinho... Por isso é fantástico! Senti orgulho de mim mesmo! Agora vejo alguém que estudou décadas a mais que eu embasando teoricamente o que eu intuitivamente pensava e praticava, legitimando meus atos. Isto organiza meu pensamento e me fortalece politicamente a partir do momento em que vejo que não estou sozinho neste movimento.

Cartola... me acompanhou enquanto desabafei aqui...
Agora, minha motivação de ir além foi potencializada, pois o ponto que até então fora uma meta, agora é a referência sobre a qual estou caminhando! Ah, e essa trajetória vai ganhando novas metas num horizonte cada vez mais amplo! Segue o baile, em busca de novas frustrações fantásticas!

3h44min, vou desligar o Cartola nos fones, cacofonizar menos, parar de parafrasear o Sócrates, e dormir... boa noite!