Há sete meses me propus a ver a série House M.D. do começo ao fim, diferentemente da forma que via pela televisão: fora de ordem, um episódio aqui, outro lá... Minha primeira série assistida assiduamente. Oito temporadas com uns vinte e poucos episódios cada!
E se associo médicos a professores é porque, consequentemente, associo pacientes a educandos... impossível estimar a redução de danos no desenvolvimento ou cura, cada qual com seu processo, dos alunos ou enfermos caso recebessem uma "atenção básica" de qualidade... outro ponto é a humanização na relação médico-paciente, importante para a melhora e bem-estar do usuário do serviço de saúde, tão discutida e motivada no meio, e algo que, por incrível que pareça, precisaria ser mais desenvolvido na Educação, na relação professor-aluno... do lado de cá vejo pouca humanização e muita criaturização (externalizada de forma bem-humorada, quase disfarçada, pelos professores que chamam os alunos de "criatura").
Alguns diagnósticos só são eficientemente feitos pelo House quando ele entra em contato com o paciente. Entende-se por contato, a escuta, empatia, olhar, afeto, ... ainda que "everybody lies", incluindo os alunos nessa citação dele. O contato envolve ainda o conhecimento do contexto social dos pacientes/alunos, feitos pela equipe de diagnóstico diferencial in loco, invadindo a casa das pessoas, o que não se faz necessário para os professores de escolas periféricas, por exemplo. Analisar a influência dos pais ou responsáveis, seja pela herança genética ou influência sobre o comportamento dos filhos, é também prática comum entre as profissões. Há uma frase muito dita por professores que retrata isso: "ao conhecer os pais em uma entrega de boletins, entendemos porque os filhos são assim...". Com isso valorizo a visão holística, ampla, sobre nossos objetos de trabalho...
E associando as principais instituições da Saúde e Educação, o hospital onde se passa a maior parte da série é mais acolhedor que até mesmo as escolas privadas daqui. Um ambiente para onde não desejamos ir oferece mais conforto, atenção e cuidados do que o ambiente para onde as crianças deveriam ter vontade de ir. As escolas repelem seu público. Chegou atrasado, não entra. Conversou, vai para fora da sala de aula. Bagunçou, vai para o SOE. Vandalizou, é suspenso. Brigou, é expul.... convidado a se retirar/realocado.
Assistir a uma série com esse contexto espacial me despertou uma série de reflexões sobre o contexto escolar em que estou inserido - seus ambientes, profissionais, usuários, relações, fluxos, etc. Mas assistir House foi muito mais que isso. Foi sobretudo um estudo sobre comportamento. No fim das contas, a série não é nada médica, como a princípio achava. É sobre Psicologia, amizade, amor, trabalho, etc, etc... expus aqui só uma das vertentes capazes de serem conhecidas, interpretadas e capazes de serem associadas com nossa realidade.