"Tristeza é um bichinho que prá roer tá sozinho. E rói a bandida. Parece rato em queijo parmesão. "
Adoniran Barbosa - Bom dia, Tristeza.
Tudo o que sinto já foi em algum
momento cantado e sonorizado em samba. As alegrias, amizades e amores! Porém,
agora escuto também a representação sonora da minha tristeza nesse ritmo.
Músicas já conhecidas, curtidas sempre de forma descontextualizada, agora fazem
mais sentido. Pouco mais específico que Musicoterapia, tenho praticado o método
Sambaterapêutico. E não é queixando-me às Rosas... mas, que bobagem...
No momento, a tristeza fez do meu
coração a sua moradia! Queria voltar àquela vida de alegria, queria de
novo cantar... já pedi até por favor para que essa tristeza fosse embora, pois
minha alma que chora está vendo o meu fim! Mas acho que ela vai sempre estar
ali, como se nunca fosse demais o meu penar... Afinal, “tristeza não tem fim;felicidade sim”. Neh, Tom Jobim?
Músicas cadenciadas, de notas
baixas, com sílabas alongadas durante o cantar; essa à qual me referi no início
do texto, justamente chamada Tristeza, é uma pedrada. Um tijolaço, se tocada
por Toquinho e Vinícius, mesmo na versão instrumental. Para quem lê sons, como
eu exercito fazer, uma música não precisa ser verbalizada para desequilibrar
alguém... O Haroldo Lobo devia estar na mesma situação que eu quando a compôs. Sem
‘Dó’.
Mas nisso não há nada de novo.
Aliás, desde que o samba é samba é assim. Mais do que nunca percebo que, de
fato, a solidão apavora. Então respeito a tristeza, que, como escreveu Caetano,
é senhora. Ao som do seu violão e da sua voz suave, cantada lenta e lindamente,
ele me consola. Só cordas, sem percussão, como se assim ficasse mais harmônico
e entrasse mais suavemente nos ouvidos. Como se assim facilitasse a minha
interpretação. Diz que o samba é pai do prazer: concordo. No entanto, é também
filho da dor! Dialética verdadeira, essa! Por isso me ajuda tanto. Então ele
encerra citando o seu grande poder transformador. Sim, é através da audição atenta
desses clássicos que eu me reenergizo, reorganizo, recupero e reequilibro. Sem
“Ré”. Preciso andar, vou por aí a procurar, sorrir pra não chorar.
Nesse jogo dialético de palavras e
sentimentos, o Adauto Santos e Luiz Carlos Paraná escreveram algo que só hoje percebo:
quem anda atrás de amor e paz, não anda bem. Porque na vida quem quer paz, amor
não tem. Seja o que for, sou mais o amor, com paz ou sem. Sei que é demais
querer-se paz, e amor também. Essa letra, na voz do Martinho, doce e
acolhedora, esclarece muita coisa... É como se me abraçasse. Quase uma
interpretação de Camões, que define o amor, em toda a sua complexidade,
contrariedade e incoerência, de forma simples, aparentemente. “É contentamento
descontente”.
A gente “vai levando”, neh
Vinícius? A boa e velha Bossa Nova, tua e de outros mestres, também tem me
ajudado. Vocês cantam a tristeza e o amor (indissociáveis) baixinho, de forma
suave, como se estivessem ao lado das pessoas. Lhes ouço próximo aos meus
ouvidos... Como se estivessem aqui no meu apartamento de classe média, sem
querer incomodar os vizinhos, bem como nas décadas de 50 e 60 vocês faziam.
Deusolivre a ditatura descobrir esses ajuntamentos de vocês, e deusmelivre parecer
triste na frente dos amigos... logo eu... Esse samba letrado de vocês me ajuda
a aceitar o meu erro cometido à minha Garota de Ipanema e me reequilibrar em
meio à construção do TCC e lado esquerdo do cérebro em alta.
O fim do meu amor de Carnaval foi
um grande breque no meu samba-enredo. Foi como o paradão da Surdo 1 em 2012.
Meu coração ainda balança como um surdo de terceira ao vê-la... Quem dera
retomássemos aquele sambão, deixando para trás o lamento... Voltássemos com uma
subida de tamborim devastadora! Meus espaços vazios já não são mais preenchidos
por seus chocalhos e caixas... são só silêncio. O repinique dela não dialoga
mais com a minha bateria. Vontade de dar um aperto de saudade no meu
coracãmborim. Só me resta molhar o pano da cuíca com as minhas lágrimas e do
nosso desacerto fazer esse samba-enredo. Assim evolui meu bloco tristeza, pé nochão.
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