"As grades do condomínio são pra trazer proteção,
mas também trazem a dúvida
se é você que está nesta... prisão!"
se é você que está nesta... prisão!"
Minha Alma - O Rappa
Notei na primeira vez em que voltei ao Instituto de Educação como professor, que há cinco olhares possíveis de serem feitos sobre a grade posta na frente do seu prédio: a, b, c, d, e.
a) Enquanto fui aluno da escola, não havia grade, logo, não havia um olhar direto sobre ela. Mas olhava o projeto e já me posicionava, enquanto Grêmio Estudantil, contra. Era ainda um olhar imaturo e que mirava o futuro, portanto sem uma base sólida que o sustentasse e sem a real dimensão do poder de uma grade.
b) Entre 2008 e 2013, período em que estive fora da escola , olhei a grade enquanto pedestre. Algo arquitetonicamente inadequado para uma construção tão bonita, que sequer permitia-me admirar sem querer a sua faixada. Sim, pois uma pessoa em movimento e de estatura menor que a grade, ao olhar na direção da escola, na diagonal, observa somente a grade. De imponentes, os pilares por detrás desta passam a ser impotentes.
c) Nas visitas em datas comemorativas (Festa Junina, Reencontro de Ex-alunos, etc.), ao ser barrado pela grade, tive um terceiro olhar: o olhar de ex-aluno. De alguém que viveu a escola e muito fez por ela e agora é barrado por uma grade que não difere um bandido de alguém com boas intenções com a escola.
Sombra à que tive acesso por ser professor. |
e) Agora o pior dos olhares que a grade recebe: o olhar do atual aluno. Uma criança que segue a característica geral de sua geração que é a despolitização (há exceções, para nossa alegria). Lutar por seu direito não é do seu feitio.
Ele chegou junto comigo, no mesmo horário, sob o mesmo Sol de Forno Alegre em março; mas ele não pôde entrar. A grade seleciona a pessoa que pode ter o seu lugar à sombra. Ela hierarquiza e coloca o professor (eu) um nível acima do mero aluno que, pobrezinho, não pode nem contar com a sombra do falecido Guapuruvu (foto) que por tanto tempo me cobriu projetando sua sombra na calçada.
Onde havia um Guapuruvu e uma bela sombra... |
Então pensemos:
Se este aluno chega cedo demais, como neste caso, fica na rua.
Se este aluno chega atrasado, após 10 minutos de tolerância fica na rua.
Entende-se por "ficar na rua", ficar sob as intempéries da natureza, o Sol forte, a chuva, o calor, o frio, vento... e, ainda, exposto à violência.
Agora, se este aluno chegasse no horário, entre 13h25min e 13h40min, ele seria preso. A grade o engoliria e o manteria até o fim do turno naquele prédio. Prédio este que, por muito pouco, difere de um presídio. Os carcereiros, ou, nesse caso, professores cuidando de suas celas, ou, salas. Professores estes, presos à uma grade curricular dentro da educação do medo.
Agora, se este aluno chegasse no horário, entre 13h25min e 13h40min, ele seria preso. A grade o engoliria e o manteria até o fim do turno naquele prédio. Prédio este que, por muito pouco, difere de um presídio. Os carcereiros, ou, nesse caso, professores cuidando de suas celas, ou, salas. Professores estes, presos à uma grade curricular dentro da educação do medo.
E à quem interessa o medo, as grades, os muros, ...?